Como toda aquela região foi sempre criadora de muito gado, as feiras representam um factor importante na vida da sua gente. Em tempos remotos houve uma feira mensal na Gralheira, que se realizava no Nicho. Talvez devido à falta de uma estrada e aos rigores do Inverno, acabou por ser extinta. Desde então passaram a fazer os seus negócios e transacções nas feiras de Castro Daire, Magueja e Cinfães. Qualquer destas ficava bastante longe da Gralheira, o que trazia grandes problemas à sua gente, sobretudo na condução dos bezerros, tenros e gordos, que não suportavam tão longa viagem através de caminhos pedregosos e agrestes.

Mais tarde foi criada a feira de Gosende, que passou a realizar-se no dia 6 de cada mês, o que veio facilitar bastante a compra e venda de gado, à gente das aldeias serranas. Há ainda as feiras anuais de S. Cristóvão, Ouvida, Cruz do Rossão, Fojo e Portas de Montemuro. Estas feiras, por serem anuais, revestem-se de maior envergadura, havendo, além das transacções habituais, muitos meios de diversão. Nelas se realizam as tradicionais lutas de bois, que chegam a bater-se horas seguidas numa luta de vida ou de morte. Dantes havia indivíduos que andavam um ano inteiro a tratar um animal o melhor que podiam, só para o apresentarem na feira como favorito ao título de campeão. Outras vezes lavradores das povoações vizinhas acertavam o dia e deitavam os bois à luta, em plena serra. Na Gralheira, o mais dedicado a essas lutas era o senhor Manuel, mais conhecido por «Raposo», que tinha sempre um boi ou uma vaca prontos a discutir o título em qualquer feira ou qualquer lugar. Mas essas lutas por vezes davam origem a tremendas desordens entre os apoiantes de cada boi.

Em 1975, voltaram a criar uma feira mensal na Gralheira, que se realizava na Ponte, mas poucos Nossa Sra. da Graça. Padroeira da Gralheiraanos teve de existência. Quanto a romarias, realizavam-se duas na Gralheira antigamente. Uma em honra de Santo António, no dia 13 de Junho e outra à Senhora da Graça, no segundo domingo de Setembro. A de Santo António acabou por falta de apoio financeiro e a da Senhora da Graça foi antecipada para o terceiro domingo de Julho, por, em Setembro, os dias serem pequenos e muitas vezes chuvosos. Pelo que dizem as pessoas mais idosas, a festa em honra de Nossa Senhora da Graça atingiu grande brilhantismo noutros tempos, chegando a incorporar na sua procissão sete andores e duas bandas de música. Depois foi decaindo e em alguns anos nem festa houve.

Mas a partir de 1969, ano da inauguração da estrada, nunca mais a festa deixou de ser feita, graças ao esforço eDia de festa na Gralheira dinamismo dos gralheirenses que vivem fora da sua terra, sobretudo dos que trabalham em Lisboa. Trazem um conjunto musical que anima a noitada até às tantas, a procissão leva quatro andores e o arraial é animado com uma banda e com o rancho folclórico da Gralheira, organizado nessa altura para actuar no arraial da festa. Por volta dos anos trinta, houve uma banda musical na Gralharia, mas passados alguns anos, foi extinta por falta de executantes. No arraial da festa em honra da Senhora da Graça, enquanto a banda tocava e o rancho se exibia, eram leiloados raminhos de flores artificiais que os rapazes compram depois de acérrimo despique, para oferecerem às raparigas suas preferidas e cuja receita reverte a favor da festa. Tradição esta que também caiu em desuso.

Grupo Etnográfico da GralheiraAntigamente nestas romarias havia grandes desordens, porque os homens desse tempo já animados com os vapores do álcool, aproveitavam o dia de festa para ajuste de contas com os das freguesias vizinhas. Quando iam a uma romaria, levavam sempre um pau que nunca largavam durante a festa, a não ser quando o regedor os desarmava como medida de precaução.

Os rapazes quando iam namorar uma rapariga que tivesse ido à erva ou com o gado, levavam sempre uma sachola, a que davam o nome de «raparigueira ou domingueira». Essas sacholas de pequeno formato, tinham rendilhados e flores gravados no aço e um cabo muito jeitoso, muitas vezes com o nome do proprietário. Estas sacholas serviam de disfarce, procurando fazer crer às raparigas que tinham ido trabalhar ou deitar a água às lameiras. Era uma maneira subtil de dizer às moças que aquele encontro não fora voluntário, mas casual, sobretudo quando ainda não tinham a certeza de serem correspondidos nos seus amores. Muitas vezes para se fazerem acreditar, davam grandes voltas, só para surgirem do lado oposto à povoação. Esses costumes morreram e as desordens nas romarias acabaram.

Hoje todos convivem em plena harmonia, quer sejam da Gralheira ou não. Nas aldeias vizinhas temos as festas de Alhões, em honra de S. Pelágio, no dia 26 de junho; S. Lourenço, na Panchorra, a 10 de Agosto; S. Pedro, em Gosende: e outras, menos conhecidas, em freguesias mais distantes.