A MATANÇA DAS VÍBORAS

Réptil com cerca de 30 a 40 centímetros de comprimento, a víbora é possuidora de um veneno muito activo, que, uma vez injectado pela ferradela, pode provocar a morte de pessoas em poucas horas, se estas não andarem depressa a tomar o contraveneno. A víbora não é agressiva por natureza, pelo contrário, quando pressente as pessoas procura fugir. Mas se é atacada ou ameaçada, defende-se com as armas que tem.

O seu habitat natural é exclusivo das terras frias, sobretudo das Serras do Norte de Portugal. Em toda a Serra de Montemuro existem víboras, mas é no concelho de Castro Daire que se encontram em maior quantidade, talvez por ser mais soalheiro.

A víbora é um animal que hiberna, passando a estação invernosa a dormir um sono letargo que só termina nos primeiros dias quentes de Março e Abril. Nessa altura saem do seu refúgio e acasalam. Terminada a época do acasalamento, normalmente no mês de Maio, dispersam e raramente se encontram. Não gostam de muito calor e, por isso, no Verão, procuram sítios mais frescos. O seu tempo de gravidez ronda os cinco meses. Reproduzem-se por meio de ovos chocados e quebrados no ventre materno. São, portanto, ovovivíparas. Cada fêmea traz, normal mente, 8 a 10 filhos, mas já têm sido encontradas algumas com 15 e 16. Têm os filhos no Outono, fins de Setembro e Outubro. Nessa altura começam a caminhada em direcção ao refúgio de inverno, que é debaixo de fragas, nos sítios mais enxutos.

Assim deve ter decorrido a vida das víboras durante séculos ou milénios, sem ninguém se preocupar em lhes mover caça propositada, a não ser quando casualmente as encontravam. Mas tudo se modificou de há uns vinte anos para cá. Alguém começou a comprar a cabeça da víbora, sem se saber para quê, mas talvez para vender depois a pessoas que acreditam na sorte da cabeça da víbora. São os ervanários os principais compradores.

Desde então tem sido um autêntico massacre. Começaram por dar 50$00 e hoje já se vendem por 1,500$00 cada cabeça. Isto paga-se ao caçador, porque quando chegam aos clientes custam mais de 5,000$00.

Perante caça tão rendosa, quase todos os homens disponíveis se dedicam á caça da víbora. As épocas mais propícias são quando acasalam, na Primavera em dias de sol e no Outono, quando têm os filhos. Nesta altura encontram muitas nos últimos dias de gravidez. Matam-nas e tiram-lhes os filhos do ventre, que também já vendem a 500$00 cada. Agora já são mais raras, depois de tantos anos de morticínio, mas no concelho de Castro Daire, ainda aparecem com frequência. Contudo, se ninguém proteger esta espécie, defendendo-a do massacre de que está a ser vítima, em breves anos a víbora pertencerá apenas ao passado.

Gralheira, 30 de Novembro de 1988