No supedâneo do Cruzeiro,
Gralheira, aldeia serrana, pobre e de clima agreste, não podia manter todos os seus filhos agarrados ao seu torrão. Alguns emigraram para o Brasil, outros para a Europa e muitos para Lisboa. Amantes da sua terra, não queriam afastar-se muito dela. Por isso é que o estrangeiro nunca os seduziu muito; antes preferiam Lisboa. Mas mesmo assim, os cerca de trezentos quilómetros que os separam, são demasiado longos para serem percorridos sempre que desejam visitar a sua terra. E lá longe, na grande capital, o Gralheirense sofre saudades da sua aldeia e o seu pensamento foge para estas bandas e vem fixar-se nesta povoação serrana, ainda com casas de colmo, anichada nas quebradas da Serra do Montemuro! Mas, sempre que pode, vem visitá-la. E então, aqui, sente-se outro homem, outra pessoa. Já não pertence àquela massa anónoma que deambula nas ruas da cidade, onde ninguém se conhece, onde cada homem se sente mais só rodeado de gente, do que um eremita no cimo da serra. Aqui, sim, o Gralheirense sente-se gente, porque é este chão que gosta de pisar; é este azul do céu que deseja ver; é este ar que gosta de respirar; é com esta gente que quer conviver. Movidos por esse desejo enorme de visitar a sua terra, muitos Gralheirenses residentes em Lisboa resolveram organizar um passeio à aldeia. Com o 1° de Maio ligado ao Domingo, foi esse fim-de-semana que escolheram para a visita. Uns em autocarro alugado, outros em transportes particulares, chegaram à Gralheira algumas dezenas de pessoas no sábado de manhã. À noite, no Centro Social, o
Grupo Etnográfico da Gralheira apresentou teatro, folclore e musica de dança
até à meia noite. O Programa de Domingo começou com a Santa Missa as nove
horas; as onze, jogo de futebol entre equipas dos residentes na Gralheira e
em Lisboa, com o resultado de 3 a 2 a favor dos da Gralheira. Às treze
horas, almoço e convívio. Mantas e toalhas estendidas à volta do cruzeiro
junto ao
Terminado o repasto, houve festa. Cantaram-se os parabéns a quem fazia anos e aos que não faziam. A tocata do Rancho Folclórico da Gralheira instalada nos degraus do cruzeiro, animou ainda mais o ambiente. Fizeram-se rodas onde entrava a criança e o velhinho de oitenta anos. Cantou-se o fado, dançou-se o vira e o malhão. Até o sol, que tão arredio andava, quis marcar presença, com o primeiro dia de calor. Só ao fim da tarde terminou o convívio. E os cestos pareciam regressar ainda cheios, tal a fartura de comida. À noite, no Centro Social, voltou a haver teatro e música de dança até à meia noite. Não podiam deitar-se muito tarde porque no dia seguinte esperavam-nos as tarefas do campo. Era o 1° de Maio, dia do trabalhador e, por isso, tinham de mostrar que o eram. Feriado para gente do campo não conta. Em suma, um fim-de-semana fraterno, divertido, para quantos puderam estar presentes, sobretudo no convívio do cruzeiro. Gralheira. 9 de Maio de 1989 |