Quando, em 1983, publiquei O livro "Gralheira de Montemuro" julguei ter incluído nele tudo o que de mais importante havia a registar desta aldeia serrana. Porém, muita coisa ficou ainda por dizer. Factos que me esqueceram e outros que pessoas idosas me contaram depois. Ao longo destes 16 anos, fui-os descrevendo e registando em crónicas que escrevi para jornais. Mas, porque estão dispersas e esquecidas. resolvi agora reuni-las todas num só livro, para que os vindouros fiquem a conhecer melhor a Gralheira antiga, o seu passado e os usos e costumes da sua gente. Quem viveu na Gralheira há 500 ou há 50 anos. teve uma vida muito idêntica, com pequenas alterações apenas. Casas cobertas de colmo, com paredes de pedra tosca e as frinchas tapadas com musgo ou barro. As pessoas vestiam de burel ou linho e calçavam tamancos ferrados com tachas. Havia estrumeiras nos caminhos, lavravam e cavavam a terra com arados e ferramentas artesanais. Enfim, viviam do que a terra produzia. A partir da década de cinquenta, tudo se alterou. E nestes últimos anos tem sido uma autêntica revolução. O colmo quase desapareceu, muitas das casas velhas foram reconstruídas e surgiram outras novas a rivalizar com as das vilas e cidades. É o progresso que avança a passos largos nestas aldeias que viveram adormecidas durante séculos e que agora despertam dessa letargia. com nova vida e dinamismo. Mas, nas ondas do progresso, muita coisa boa vai ficando pelo caminho. A agricultura está moribunda e a pecuária também. já não se ouve o lindo canto das jovens pastoras de vacas e rebanhos que, sentadas ao portal da lameira ou em cima de um penedo, misturavam as suas lindas vozes com o canto das aves e o som das campainhas que os animais trazem ao pescoço. Cenário bucólico, romântico, poético, que hoje já não temos a doce ventura de contemplar. Apesar de ainda haver vacas e rebanhos, já quase só as pessoas idosas se dedicam ao seu pastoreio. Damos uma volta pelos montes, tapadas e lameiras e encontramos um silêncio sepulcral, só quebrado, aqui e além pelo canto de urna avezita, muitas vezes solitária ou pelo sussurro de um regato encantador. Nas searas outrora cultivadas, medram agora as silvas e o matagal.Foi preço do progresso. da nova vida, de uma vida menos sacrificada e apesar de tudo melhor, sem as carências do passado. Espero que os leitores encontrem nas crónicas deste livro algo que desconhecem e que a leitura seja do seu agrado. O conteúdo de cada crónica reporta-se ao ano em que foi escrita, cuja data está impressa no final de cada uma.
O Autor
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No que de belo existe sobre a Terra Quando o sol desponta no horizonte Mais bela que as estrelas do espaço Enquanto Deus me conceder o dom da vida Tu serás a minha musa inspiradora Carlos de Oliveira Silvestre 19/05/1993 |